O AIKIDO E A MUDANÇA INTERNA

Quando iniciei a prática do AIKIDO, li em vários artigos especializados que o aikido era capaz de produzir uma grande mudança interna nas pessoas que praticam a arte. Confesso achei que isso não se concretizaria, pois comecei a pratica do AIKIDO já com meus 32 anos de idade e vindo de outras artes marciais, acreditava que já possuía uma "personalidade marcial" formada, e que tal fato não passaria de uma "propaganda" com o objetivo de valorizar e dar um sentido espiritual maior a pratica desta arte marcial.

O AIKIDO promove uma interação entre uke e nague de forma harmoniosa, comecei entender a diferença. Entendi que para conseguir executar determinados movimentos, não bastava somente a disposição mecânica da forma, há uma necessidade de desenvolver algo maior, além da compreensão física, é necessário o desenvolvimento de energias que possuímos, mas que ainda não sabemos de forma consciente administrá-las.

O kanji AI tem como um de seus significados o sentimento AMOR, por esta razão começamos a interpretar que o AIKIDO é uma arte marcial que busca conciliação, união, uma arte que visa à resolução de conflitos. O AIKIDO não pode ser expresso apenas como uma arte marcial entre as outras, hoje vejo com mais clareza que o AIKIDO promove mudanças profundas de comportamento quando começamos a entender e praticar o seu real significado.

Para que haja um desenvolvimento consistente do AIKIDO teremos que enxergar além da forma, é muito fácil executar os movimentos mecanicamente, apenas como uma forma de exercícios de repetição, mas se buscamos o aperfeiçoamento e a mudança, temos que nos dedicar de forma atenciosa a cada movimento, ou seja, não faço um movimento ou exercício apenas por repetição, a cada vez que executo um movimento tenho que procurar fazer o melhor movimento possível, tentando sempre observar o meu comportamento e o do uke, quando repetimos simplesmente o movimento e encontramos um uke passivo a técnica, torna-se impossível desenvolver uma forma eficiente.

Se o uke simplesmente se projeta ao menor contato e, o nague aceita passivamente essa situação e acha correto esta postura, podemos dizer que ambos estão simplesmente se desgastando, devemos buscar a seriedade no treinamento, pois o AIKIDO é uma arte marcial, não quero dizer que temos que resistir a ponto de impedir o movimento do nague, quero dizer que se for aplicado resistência de forma progressiva ao nível do nague, isto será benéfico para ele, pois assim nague irá de fato arremessar uke desenvolvendo assim a técnica.

Dentro desta visão de colaboração é que as mudanças ocorrem, necessito da colaboração de uke para que a técnica se desenvolva, ele dará o feedback da técnica e somente assim saberemos a sinceridade de nosso movimento, o uke age como um termômetro técnico, ele dirá o tanto que estamos desenvolvendo no caminho e o tanto que meu movimento está sendo sincero.

A interação é necessária ao desenvolvimento técnico, pela peculiaridade do treinamento sou ao mesmo tempo uke e nague, sem essas condições não há o equilíbrio necessário, não há o AIKIDO. Imaginem como praticar o AIKIDO de forma solitária, poderíamos treinar alguns katas de JO e BOKKEN, alguns movimentos respiratórios, algumas quedas, mas não desenvolveríamos o principal, ficaria prejudicado o Kihon Waza, o Takemusso Aiki, o Oyo Henka, o Kumite Keiko, estágios que fazem parte da evolução do AIKIDO.

Buscando vencer as dificuldades surgidas no treinamento, com certeza cresceremos não somente tecnicamente, mas também como seres humanos, pois uma arte marcial que valoriza e respeita o uke, com certeza nos trará grandes benefícios.

Domo

Massako.