A simplicidade do caminho.

Durante muitos anos dentro de uma visão simplista e pré-formatada acreditei que conduzindo o treinamento marcial baseado em uma disciplina mental e física conseguiria atingir um alto nível de compreensão técnica. Mas, diante das intempéries surgidas no dia-a-dia, verifico que este é um sonho que vai se distanciando, neste momento surge à questão: como manter uma disciplina de treinamento se a minha maior dificuldade é imposta por fatores que eu não tenho controle, citando o avançar da idade, as atribuições e deveres sociais e familiares, lesões obtidas graças ao esforço repetitivo de determinadas técnicas, etc. A resposta, acredito eu, é bem simples, MUDAR O FOCO DE TREINAMENTO.

Para mudar o foco de treinamento, tenho que mudar a minha consciência marcial, se antes esta consciência era baseada somente em uma árdua disciplina física, agora passa ser um misto entre o físico e o mental, treinar sem sofrimento, respeitando os limites do próprio corpo. É fato que com o avançar da idade perdemos o vigor físico, mas com certeza ganhamos em experiência, assim devemos aliar essa experiência ao novo modelo de treinamento, sabendo que muitas técnicas já não poderão ser executadas com extrema maestria, mas outras que aparentemente são mais “simples” poderão ser potencializadas tornando-se extremamente poderosas.

Recentemente assisti a um vídeo de Saito Sensei, este já em seus últimos seminários, e pude observar a maestria com que este senil mestre executava suas técnicas, e o que mais me impressionou foi que durante a execução da técnica koshi-nague, ele simplesmente fez o esboço da mesma para os dicentes, não a executando, e deixando claro que seu quadril e seus joelhos já não permitiam a execução de tal movimento. Isso fez sem deixar de ser grande, sem deixar de ser admirado e numa prova de que o conhecimento técnico superou as dificuldades pessoais, ou seja, ele poderia muito bem ter se abstido da execução do movimento, mas o demonstrando provou que ele estava acima destas vaidades.

Diante disso fica a lição que se resume no dito popular: “a água procura seu nível”. Não é possível superar as dificuldades sem conhecê-las. Devemos perder o medo de nós mesmos e expandirmos a consciência, buscarmos a compreensão de nossos pontos fortes e fracos; aprendermos a administrar as deficiências e potencializar nossas qualidades, moldarmos a essa nova realidade que se apresenta e não fugirmos dela, buscar o conhecimento sem sofrimento, buscar o entendimento para manter acesa a chama marcial e com esta aquecer e confortar o nosso espírito. É importante encontrar novas oportunidades para aprender e desenvolver o Aikido.

Massako.